Quinta-Feira, 21 de Novembro de 2024

História

Piancó é uma das mais antigas cidades do nordeste brasileiro, já possuía colonização branca em 1680, quando o sanguinário e lendário bandeirante Domingos Jorge Velho chegou ao velho rincão sertanejo, vencendo e submetendo os índios cariris da Tribo dos Coremas, então liderados pela bravura do intrépido Cacique Piancó, ao seu poder armamentista. Por aqui, ele faleceu em 1705.

Após seu desaparecimento, os índios recuperaram o poder e temendo violência dos aborígines, em represália aos sofrimentos vividos quando do controle de Jorge Velho, os moradores da região enviaram carta ao Governador Geral da Província da Parahyba requerendo auxílio e proteção, tendo o Governo Geral criado nova campanha, liderada pelo Capitão-Mor Manuel de Araújo Carvalho, temido e respeitado, que fora Juiz Ordinário dos sertões do Cariri, Piranhas e Piancó, Tabelião e Escrivão, com sede no Julgado de Piancó (Pombal), empossado em 1708, o qual, após quatro anos de embate e negociações consegue estabelecer a paz na região.

Com os ânimos arrefecidos e a paz reinando, finalmente em 08 de novembro de 1748, com a doação de um vasto território pela portentosa Casa da Torre da Bahia através de seu governante, o Coronel Francisco Dias D'Ávila e sua esposa Catarina Francisca Correia de Aragão, proprietários de quase todo o nordeste brasileiro, para constituir o patrimônio da nova capela, tendo como administrador e representante da Capela de Santo Antônio, o Sargento-Mor Manoel da Silva Passos, funda-se a Vila de Santo Antônio de Piancó.

A escritura de doação, lavrada no Livro de Notas nº. 10 do Cartório do 1º Ofício de Pombal contou ainda com a chancela do Sargento-Mor João de Miranda Henriques e de Pedro Alves de Araújo, que segundo Franciraldo Loureiro Cavalcante, no seu "Memorial das Família Pereira e Cavalcante", era filho de Manuel de Araújo Carvalho. Esses três homens, indiscutivelmente, são os responsáveis pela fundação da Povoação de Santo Antônio de Piancó que iniciou as margens do rio de mesma denominação, diferentemente do erro iniciado pelo historiador Coriolano de Medeiros que credita à fundação da localidade à Manuel de Araújo Carvalho, quando este, na verdade, ajudou a constituir o patrimônio da igreja em invocação a Nossa Senhora do Bom Sucesso, hoje Pombal, a qual pertencia o Piancó (SEIXAS, Wilson, pág. 151/152). A referida igreja, construída em 1721 ainda hoje existe como registro real da rica história desta região.

Anos depois, em 11 de novembro de 1831 o nome da localidade passou para Vila Amélia de Piancó, instalada oficialmente em 05 de maio de 1832, quando definitivamente Piancó se separa de Pombal, momento que deve ser reconhecido como sua Emancipação Política. O nome perdurou até 27 de junho de 1833, quando passou à Vila Constitucional de Santo Antônio de Piancó, para finalmente em 21 de novembro de 1933, com a alçada da localidade ao foro de cidade através do Decreto nº. 443/33, denominar-se apenas Piancó.
Por longos anos ficou sob a jurisdição de Pombal até que pela Lei Provincial nº. 27, datada de 06 de julho de 1854, passou a jurisdição de Sousa, passando a ser sede de comarca pela Lei nº. 250, de 09 de outubro de 1866.

De seu território, foram criados os 20 municípios do Vale, que com o tempo desmembraram-se de suas terras ou da área dos primeiros filhos da Rainha do Vale: Misericórdia (hoje Itaporanga) e Conceição, desmembradas de Piancó em 07 de outubro de 1849 pela Lei Provincial nº. 727.

Nas origens de Piancó, a catequização dos aborígenes estava a cargo dos Frades da Ordem de São Pedro e da Companhia de Jesus, os Jesuítas, que instalaram sua sede na Fazenda Santo Antônio Pequeno, alcunhada de Santo Antonhinho ou Santo Antonino, a seis quilômetros da cidade, onde ainda hoje podem ser encontrados vestígios desse centro de atividade religiosa.

A Fazenda Santo Antônio, com Capela de mesma denominação, segundo o histórico "Annuario Ecclesiatico da Parahyba do Norte", foi elevada à categoria de Freguesia em 1739, tendo como seu primeiro administrador o Capitão-Mor Francisco de Oliveira Ledo e como primeiro Vigário, o Padre Pedro Bezerra de Brito, que em Piancó chegou em 18 de outubro de 1739, enviado pelo Bispo Dom Frei Luiz de Santa Tereza, aqui permanecendo até 1746, sendo ele o responsável pelo início da construção da capela da localidade, que tempos depois deu lugar a atual Igreja de Nossa Senhora do Rosário em 1814. Foi auxiliar do Padre Pedro, durante muitos anos, o Padre Cosme Joaquim de Almeida Magalhães.

Entendo como necessária a abertura de um parêntese nesse momento: freguesia, era um termo administrativo criado por Portugal que colocava a igreja, à época, como administradora do local e que vigorou em Piancó até 1820, quando as foram criados nas freguesias as administrações civis, tendo esta terra, como primeiro administrador civil da freguesia de Piancó o Cel. João Leite Ferreira, cuja posse foi autorizada pelo Imperador D. Pedro I em 20 de novembro de 1823. Durante sua administração, foi criada em 1829 a primeira Escola Primária da Freguesia.

Importante fato religioso para a história de Piancó foi a chegada, em 23 de maio de 1749 da primeira imagem de Santo Antônio de sua história, advinda de Portugal e encomendada pelos moradores da localidade.

Cabe registrar que o primeiro prefeito de Piancó, com o advento da função no Brasil e sua aplicação na Paraíba através da Lei nº. 27, de 02 de março de 1895, foi o Cel. Tiburtino Leite Ferreira, que assumiu os destinos da terra em 01 de abril de 1895, administrando a Vila até 1897 ao lado do seu subprefeito, Abílio Rodrigues dos Santos.

Até então a Vila era administrada pelo Conselho de Intendência, que teve como seu último Presidente o Dr. Francisco de Paula e Silva Primo.
O Cel. Tiburtino retornou ao comando da Vila em 23 de dezembro de 1900, administrando-a até 01 de dezembro de 1902, quando do seu falecimento que entristeceu toda a comunidade.

Uma das maiores obras de seu curto governo, foi a construção da sede do Conselho Municipal. Além desta edificação, podemos destacar como as principais construções dos primórdios de Piancó, a Casa de Mercado, construída pelo Dr. Francisco de Paula e Silva Primo, a Cadeia Pública, iniciada no governo de Felizardo Toscano Leite Ferreira e concluída pelo Dr. Paula e Silva.

Gostaria de inserir nesse contexto, outro grande nome da família Leite Ferreira, o Cel. João Leite Ferreira Primo, que tendo cedo mudando-se para a Vila de Pombal, tornou-se um dos seus mais influentes políticos, sendo o seu Primeiro Prefeito, nomeado também em 1895 e governando-a por vinte anos, até 1915.

Vale destacar, outro fato interessante. Em 16 de março de 1919, o Cel. José Parente, acompanhado de Manuel Bezerra Leite e João Galdino da Costa realizou a primeira viagem de automóvel da história de Piancó, realizada até a Vila de Patos, na estrada de rodagem construída pelo Cel. José Parente, numa demonstração clara do investimento dos ricos coronéis piancoenses no desenvolvimento regional.

O primeiro Juiz de Direito de Piancó foi o Dr. Izidro Leite Ferreira de Sousa, nomeado em 1854 para o cargo, que antes, no ano de 1848 havia exercido na comarca de Sousa. Da mesma forma, a primeira Câmara Municipal de Piancó foi instalada em 01 de janeiro de 1833.

Em 08 de março de 1877 foi instalada a Câmara Municipal de Piancó, tendo como primeiro Presidente Antônio Leite Ferreira.

Com a chegada de Pedro Leite Ferreira, Piancó passa a ser o centro de uma das mais poderosas famílias de oligarcas e políticos da Paraíba. A família Leite Ferreira, por mais de 200 anos liderou com mãos de ferro a política, a sociedade, a cultura e a religião dessa terra. Seus membros mais fortes, extrapolaram os limites deste território e foram em várias oportunidades Deputados Provinciais e Federais, figurando como Presidentes dos poderes legislativos da Paraíba e do Brasil, além de exercerem extraordinário comando na política do estado como líderes do Partido Conservador paraibano.

O Dr. João Leite Ferreira, o mais destacado deles, inclusive uniu sua estirpe ao sangue do Comendador Felizardo Toscano de Brito, à época o mais influente político paraibano, que por sua desenvoltura política e social concedeu a mão de sua filha Eugênia Toscano de Brito, com a qual o mesmo contraiu núpcias e ampliou os poderes das famílias em todo o território dos tabajaras.

Todo esse poderio só veio a ser abalado com a chegada, em 1902, a Piancó de um jovem sacerdote chamado Aristides Ferreira da Cruz, que, de modo autêntico e determinado, destronou essa história, chegando a representar Piancó na Assembleia Legislativa por três mandatos como Deputado Estadual, entre os anos de 1916 e 1926, o que veremos de forma mais detalhada à seguir.

Alguns vestígios ainda restaram, e por outros anos a família ainda emplacou líderes políticos, a exemplo de Salviano Leite Rolim, Prefeito de Piancó e Senador da República na década de 1950, Antônio Leite Montenegro, que por 9 legislaturas, entre titularidade e suplência ocupou uma cadeira na Casa de Epitácio Pessoa e por 6 vezes foi Prefeito de Piancó, Elzir Matos, considerado o mais arrojado gestor público de Piancó e que ocupou os mais altos postos do poder no Brasil, Eilzo Matos, deputado-estadual e federal por algumas legislaturas e ainda Adhemar Teotônio Leite Ferreira, que também ocupou uma cadeira na Assembleia Legislativa da Paraíba, todos que terão suas vidas um pouco mais detalhadas à frente.

Durante os anos 1930, o Cel. José Pereira, Deputado Estadual e líder absoluto de Princesa Izabel e região declara guerra ao Governo da Paraíba, gerando um dos mais importantes embates militares da história deste Estado.

Pela importância política de Piancó e sua estratégica localização geográfica, o Governador da Paraíba José Américo de Almeida instala na Vila o Centro de Operações Militares de combate à José Pereira. Durante semanas, soldados, armas, tanques e aviões militares partiam de Piancó para combate ao intrépido e combativo levante de Princesa. Mais uma vez, esta terra marcou seu nome na história da Paraíba.

Na área educacional, Piancó conta com importantes centros de ensino. A mais antiga instituição em atividade é a Escola Estadual Adhemar Leite, inaugurada em 25 de janeiro de 1937 pelo Governador Argemiro de Figueiredo, tendo como sua primeira diretora a Professora Ernestina de Araújo Silva. Em 28 de agosto de 1952, com a concessão de sua outorga foi criada a Escola Normal Santo Antônio, um dos mais tradicionais e importantes celeiros educacionais da Paraíba, que por muitos anos funcionou como um internato para meninas comandado pela Ordem das Irmãs Carmelitas. Já em 05 de março de 1953 foi criada a Escola de Ensino Secundário Ginásio Sant'Ana, posteriormente mudada para Escola Estadual Brasil Oiticica e, hodiernamente, com o nome de Escola Estadual Maria Nazaré Remígio. Temos ainda a Escola Estadual Beatriz Loureiro Lopes. No campo privado, destacamos o mais importante educandário de Piancó, o Instituto Lourdinha Montenegro, fundado em 1970 e em plena atividade até o ano 2012, quando encerou os seus serviços após quarenta e dois anos de ininterrupta e grandiosa contribuição à educação dos cidadãos piancoenses.

Foi esta terra palco de um dos mais sangrentos embates de toda a história da caminha da Coluna Prestes pelo Brasil na década de 1920. Quando de sua passagem, em 09 de fevereiro de 1926, sem informações concretas dos ideais da Coluna, o Padre Aristides Ferreira da Cruz, em uma grande emboscada, fica na cidade e, ao lado de poucos homens, defende a Vila da invasão, quando acabam todos sendo barbaramente assassinados. Ficaram, estes defensores, conhecidos como Os Mártires de Piancó.

Referências:

BARBOSA, Cônego Florentino. A Família Leite no Nordeste Brasileiro - 1775 a 1948. Gráfica Petrucci e CIA, 1948, João Pessoa -PB;
CAVALCANTE, Franciraldo Loureiro;CAVALCANTI, Inventariando um Acervo: Memorial das famílias Pereira Cavalcanti e Lopes Loureiro, Unipê Editora, 2006, João Pessoa -PB;
FILHO, Clodoaldo Brasilino. Piancó, 250 Anos de História, Impreel Gráfica e Editora, 2003, Piancó - PB;
LEITÃO, Deusdedit. Bacharéis Paraibanos pela Faculdade de Olinda, 1832-1853, União Editora, João Pessoa - PB;
SEIXAS, Wilson Nóbrega. Viagem Através da Província da Paraíba, A União CIA Editora, 1985, João Pessoa - PB;
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